Instituto Pensar - Queiroga defende Copa América e diz que não é censor do presidente

Queiroga defende Copa América e diz que não é censor do presidente

por: Iara Vidal


Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou na CPI da Pandemia do Senado, nesta terça-feira (8), que a Copa América não representa riscos adicionais à população e que, do ponto de vista epidemiológico, não há justificativa para o torneio não se realizado no Brasil, posicionamento que recebeu críticas de senadores. A competição começa neste domingo (13).

Queiroga reforçou que não cabe ao ministério decidir sobre a realização do evento, que é privado, e afirmou que os protocolos apresentados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) são seguros. 

"Dar ou não aval à Copa América no Brasil não é função do Ministério da Saúde. Presidente me pediu que avaliasse os protocolos. Avaliamos os protocolos da CBF e da Conmebol. Eles estão de acordo. Autoridades dos estados aceitaram.?
Marcelo Queiroga

O ministro disse que outros eventos esportivos estão ocorrendo no Brasil e que é exigido de todos que entram no país teste RT-PCR. E apontou que a Copa América é um evento "pequeno?, diferente de uma "olimpíada?. 

O senador Humberto Costa (PT-PE) disse que não é possível equiparar a Copa América a outras competições e que, além de atletas, virão milhares de funcionários das comissões técnicas e jornalistas. Ele classificou como um ? equívoco? dizer que o ministério não pode interferir por se tratar de um evento privado e afirmou que cabe à principal autoridade sanitária do país vetar ou aprovar o evento em um momento de pandemia. 

Queiroga não comenta comportamento de Bolsonaro

Após o ministro afirmar que defende medidas não farmacológicas como distanciamento social e uso de máscaras para evitar a disseminação do novo coronavírus, senadores questionaram a postura de Queiroga ante o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que critica essas medidas e promove aglomerações. Sobre os protocolos sanitários, o titular da Saúde defendeu o cumprimento por todos os brasileiros, mas afirmou que seguir as recomendações é uma decisão particular do chefe do Executivo.

"Eu sou um ministro da Saúde. Eu não sou censor do presidente da República. Faço parte de um governo. Presidente da República não é julgado pelo ministro da Saúde.?
Marcelo Queiroga

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que é "constrangedor? o ministro orientar a população a ser cuidadosa e o presidente da República não seguir as recomendações do Ministério da Saúde. Em resposta, o ministro reforçou que tem feito a sua parte e defendido medidas não farmacológicas.

Socialistas criticam blindagem de Queiroga a Bolsonaro

O líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), avaliou que o depoimento do ministro foi um show de horrores. "O segundo depoimento de Queiroga na CPI da Covid deixou claro que o quarto ministro da Saúde do governo Bolsonaro está disposto a seguir a cartilha e blindar os responsáveis pelo caos que o Brasil enfrenta?, comentou.

O deputado Elias Vaz (PSB-GO) classificou como lamentável a fala do ministro da Saúde. "Bolsonaro ignora as regras sanitárias da pandemia, coloca a vida das pessoas em risco e os parceiros de governo agem como se não fosse nada demais?, comentou.

Queiroga defendeu o lockdown

Ainda sobre medidas não farmacológicas, o ministro defendeu o fechamento de atividades em cidades a depender da situação da propagação do vírus, mas que sua principal preocupação é ampliar a vacinação e imunizar toda população com 18 anos ou mais até o final do ano. Também disse que o governo se prepara para uma campanha de vacinação contra covid-19 em 2022.

Questionado por Renan Calheiros (MDB-AL) sobre a ação apresentada pela Advocacia-Geral da União (AGU) ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir que sejam declaradas inconstitucionais medidas de governadores e prefeitos por lockdown e toques de recolher em razão da pandemia da covid-19, Queiroga apontou que não foi consultado sobre a ADI. A medida é defendida pelo presidente Jair Bolsonaro. 

"Tratamento precoce?

Com relação ao chamado "tratamento precoce? com o uso de medicamentos contra covid-19 sem comprovação científica, Marcelo Queiroga reforçou que essas discussões "nada contribuem para pôr fim ao caráter pandêmico dessa doença?.

É a segunda vez que Queiroga compareceu à CPI para prestar depoimento. Ele retornou após a primeira oitiva, em 6 de maio, ter sido avaliada por senadores como "contraditória? e após o anúncio de que o Brasil seria a sede da Copa América. 

Não nomeação de Luana Araújo foi escolha de Queiroga

O ministro afirmou que a decisão de não nomear a infectologista Luana Araújo para Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 foi dele. Segundo Queiroga, não houve "óbice político? ao nome de Luana, versão, conforme senadores, diferente da relatada pela infectologista e pelo próprio ministro em audiência na Câmara dos Deputados.

Questionado pelo relator Renan Calheiros, o ministro também admitiu que, mesmo em meio à pandemia, não há infectologistas na pasta da Saúde.

Queiroga disse que "mudou de posição? sobre a nomeação de Luana Araújo, que era então uma colaboradora eventual da pasta, e decidiu dispensá-la após perceber que o nome dela não traria "harmonização? entre médicos. 

"Apesar da qualificação técnica, o nome de Luana começou a sofrer muitas resistências, em face dos temas que são tratados aqui, quando há uma divergência muito grande entre a classe médica. E eu entendi que, naquele momento, a despeito da qualificação que a Dra. Luana tem, não seria importante a presença dela para contribuir para a harmonização desse contexto. Então, em um ato discricionário do Ministro, resolvi não efetivar a sua nomeação?, afirmou o ministro.

Queiroga afirmou aos senadores que o nome da infectologista foi encaminhado para a Casa Civil e para a Secretaria de Governo e que não houve veto ao nome dela por parte do Palácio do Planalto.

Infectologista rebateu ministro Queiroga

Após a fala do ministro da Saúde de que partiu dele o veto à nomeação da infectologista Luana Araújo, e não do Palácio do Planalto, ela rebateu a declaração e disse topar acareação.

Em entrevista ao portal Metrópoles, Luiza manteve a versão dada por ela à comissão de que havia sido comunicada por Queiroga de que sua nomeação não foi efetivada porque seu nome não teria sido aprovado pelo governo.

"Acho que, diante de tudo exposto hoje, a realidade é translúcida. Meu posicionamento pró-ciência é desagregador. O comportamento agregador, nesta esfera de governança, é o anticiência. Portanto, minha presença, de fato, não tinha cabimento.?
Luana Araújo

"Como poderia fugir disso? Se necessário, lá estarei?, disse a médica, reforçando que a versão dada por ela "foi o que aconteceu?, disse a infectologista após declarar que aceita uma acareação com o ministro da Saúde para comparação de versões.

?Capitã cloroquina? continua no cargo

Parlamentares também estranharam o fato de Luana Araújo, que é defensora da ciência e crítica do uso de medicamentos sem comprovação, tenha sido dispensada do Ministério enquanto que Mayra Pinheiro, que promove o "tratamento precoce? segue na pasta. 

Em resposta a Renan Calheiros (MDB-AL), Queiroga disse que Mayra Pinheiro não cuida da covid-19. Sobre a vaga ainda não preenchida na secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, Queiroga disse que pretende nomear algém para o cargo até a próxima sexta-feira (11) e que "a pressa é inimiga da perfeição?.

Infectologistas no Ministério

Renan Calheiros perguntou quantos infectologistas compõem a equipe do Ministério da Saúde. Na semana passada, Luana Araújo disse não ter conhecido nenhum médico com essa especialidade nos principais cargos da pasta, informação que foi confirmada por Queiroga. Segundo o ministro, não há infectologistas trabalhando no Ministério da Saúde para tratar do combate à pandemia de covid-19.

Gabinete paralelo

Questionado pelo relator da CPI, Renan Calheiros, o ministro disse desconhecer um gabinete paralelo que supostamente assessora  Jair Bolsonaro durante a pandemia.

Mas o ministro admitiu ter mantido "contatos isolados? com a médica Nise Yamaguchi, o empresário Carlos Wizard e o deputado federal Osmar Terra e o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro. Negou ter contato com o Arthur Weintraub, com o virologista Paolo Zanotto e com o anestesista Luciano Dias Azevedo.

Queiroga também confirmou que um representante do Ministério da Saúde, o secretário executivo Hélio Angotti Neto, se reuniu com supostos membros do gabinete paralelo.




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